UM PEDAÇO DE HISTÓRIA DA FOZ

(texto publicado no “Jornal do Fundão” e no “O Concelho de Vila Velha de Ródão”)

Em meados do século XIX, empreendedores dignos desse nome e da nossa admiração, descobriram o potencial do Ribeiro do Cobrão cujo nascente, Olho d’Água, mantém constante durante o ano todo água à farta e de qualidade superior. Durante quase um século, os nossos antepassados tiveram engenho e inteligência para montar em redor do Ribeiro algumas explorações industriais/artesanais criadoras de riqueza que absorveram toda a mão-de-obra local e outra vinda do exterior, especialmente técnica. Força motriz: a água!
Foi a construção de uma fábrica de fiação, teares, pisões, tintos, moinhos, comércio e hortas com sistema de levadas para regadio… e consequente aumento da população que atingiu as cinco centenas. Foz do Cobrão foi de facto uma terra próspera.
Entretanto, apesar da resistência de alguns, em meados do século XX, por circunstâncias diversas, a fábrica fechou, os teares deixaram de produzir belas peças de lã, especialmente o serrobeco, os moinhos resistiram mais algum tempo… e a Foz, ostracizada como esteve sempre até 25 de Abril de 1974, começou a definhar até à situação de despovoamento em que se encontra, como de resto todo o Interior, aliás, por concentração de todo o tipo de investimento em redor dos grandes centros urbanos para onde se deslocaram as novas gerações daquele tempo…
Quem quiser refletir um pouquinho que seja pode concluir facilmente que o ribeiro do Cobrão com o seu importante caudal permanente já estaria a ser explorado noutras regiões do País, até pelo seu enquadramento paisagístico e ainda por cima ter o Ocreza como vizinho e o Tejo ali tão perto. Portanto, além de tudo o mais esteve demasiado tempo “escondido” no meio das serras das talhadas e do Perdigão… sem acessos!
As autarquias do 25 de Abril, finalmente, descobriram a terra, sendo o saudoso presidente da Câmara José Baptista Martins quem primeiro descobriu este paraíso, projetando criar ali uma “Aldeia Modelo” para todo o país, como dizia, podendo eu mesmo recordar hoje uma visita que fez à Foz, com o arquiteto José Manuel, na qual apresentou como necessidade imperiosa, um sistema de rega para eliminar todas as mangueiras que se estendiam pelas margens do Ribeiro e, disse mais, era também imperioso substituir todas as coberturas de zinco, nas capoeiras e furdas, visíveis dos acessos à terra… Não houve abertura nem apoio dos locais por falta de investidores, naturalmente, mas algo foi feito e lançados importantes investimentos no concelho como a Casa de Artes do Tejo, verdadeiro monumento à Cultura, e marco de outras importantes infraestruturas municipais, bem visíveis, aliás.
Na Foz, o sistema de rega avançou mesmo com a Câmara que veio a seguir, mas os telhados de zinco continuam, quase todos, a descaracterizar a aldeia que se pretendia mais cuidada e virada para o turismo, como era desejo do Inspetor Baptista Martins. Isto não significa falta de empenho das autarquias seguintes que não descuraram o desenvolvimento do concelho em geral, com particular incidência na criação de empregos… e desenvolvimento integrado que continua nos dias de hoje. Aliás, as gerações mais antigas sabem ver as diferenças do nosso espaço municipal antes e depois do 25 de Abril! Repito: o melhor de Abril são as Autarquias…
Mas a água do Cobrão já devia estar a produzir riqueza há muito! Independentemente do benefício que representa o sistema de rega que funciona razoavelmente bem.
Mas, quer se queira quer não, o futuro da região, para além da indústria, está no turismo… E, finalmente, a Foz do Cobrão, que tem as melhores condições, vai ter a sua praia fluvial no próximo Verão… ou estarei equivocado?
OC

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